viernes, 10 de agosto de 2007

Sérgio Medeiros y la lengua portuguesa

O português é horrível

Por Sérgio Medeiros

Um dia, já faz tempo, ou nem tanto assim, eu estava em Los Angeles esperando um trem. Do meu lado, uma brasileira conversava comigo. Conversávamos em português. Havia um banco ali perto, no qual uma americana gorda estava sentada. Ela usava óculos escuros e segurava uma bengala reluzente. Era cega. De repente ela nos interrompeu, sem voltar para nós a cara enfezada:

- Que língua é essa que vocês estão falando?

Eu e a minha companheira (uma digna senhora de certa idade) sorrimos e olhamos para a americana com simpatia. Um de nós dois respondeu prontamente:

- É português.

- É horrível – protestou prontamente a mulher cega: vimos que ela estava irritada, muito irritada.

Ela continuou com a cara enfezada e nós dois, eu e a minha companheira de espera, ficamos mudos. Eu não comentei nada, nem em português nem em inglês. Mas logo retomamos a conversa em português e ignoramos a mulher cega. Ela não disse mais nada.

De repente um guarda se aproximou da gente. Ele parou e comentou em português de Portugal, depois de nos ouvir reclamar do atraso do trem:

- Não é trem, é comboio: vocês brasileiros estão acabando com a nossa língua.

Felizmente o guarda português naturalizado americano era simpático. Falamos algumas amenidades. A americana sentada ao lado manteve a cara feia. Foi obrigada a nos ouvir falar o melhor e o pior português.


Sérgio Medeiros é autor de dois livros de poesia, “Alongamento” (Ateliê, 2004) e “Mais ou menos do que dois” (Iluminuras, 2001). Seus novos poemas sairão em espanhol ainda este ano.

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