martes, 14 de agosto de 2007

La ficción de Fábio Campana en reseña publikada por O Estado de S. Paulo

INVENTÁRIO DE UMA DESILUSÃO

por Wilson Bueno

Depois de O Guardador de Fantasmas, do inventivo O último dia de Cabeza de Vaca e da alta voltagem de Todo o Sangue, Fábio Campana retoma, com o inquietante romance Ai – desde já uma das melhores ficções publicadas no Brasil neste 2007 –, o seu inventário de sombra e desassossego.

Para quem, como Luís, protagonista e narrador do livro, inexiste o presente e muito menos o futuro, há que se pensar o passado feito aqueles que, só pela via da memória, alcançam recompor uma vida em pedaços. Ao final e ao cabo, possivelmente reste alguma coisa para além das perdidas ilusões.

Daí a obsessão pelo ido e o vivido neste autêntico "romance de formação" (o nunca assaz louvado bildenroman) com que Campana nos surpreende ainda outra vez, senhor de seu ofício e da engenhosidade não pequena que toda prosa digna deste nome pede e reclama.

A partir de um entrecho aparentemente simples, o que temos em Ai são os retornos do narrador Luís à casa paterna, em Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira, no exato cenário onde o passado vige feito um bicho que resiste ao andado das horas. Triunfa ali, como não poderia ser de outro modo, o passado do passado e outro passado ainda, mais remoto, o dos primórdios da fundação da cidade, 18 anos depois do final da Guerra do Paraguai, por homens broncos e decididos, mas capazes ao menos de uma "ponte" com o futuro. Ao pobre diabo Luís, professor de História às voltas com o eterno adiamento de uma tese acadêmica, nem isto.

E se ele, o futuro, existiu um dia, já nasceu bichado sob o sonho evangélico de um mundo mais justo e mais equânime, pelo viés da utopia socialista que animou o melhor da geração que aí está, sexagenária ou quase – o mais das vezes, frustra e vã. Não, senhores, não pensem encontrar neste livro quase nauseante – pela densidade que a tudo comove e petrifica –, uma frestra que seja na direção da esperança. Não há esperança para quem perdeu de vez o futuro.

Continua aqui: http://www.travessadoseditores.com.br/

No hay comentarios: